quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O retorno da "Peste branca" e os avanços científicos dos nossos "tuguinhas"






"Um aluno do 12.º ano da Escola Secundária Alcaides de Faria, em Barcelos, contraiu tuberculose pulmonar e está em casa, submetido a tratamento com antibióticos."


"Uma estudante do 11º ano da Escola Secundária de Seia foi internada nos HUC depois de lhe ter sido detectada tuberculose pulmonar. Para fazer o despiste da doença foi já efectuado um rastreio no estabelecimento de ensino frequentado pela aluna, estando previsto um outro mais alargado para o dia 2 de Maio, a realizar pelo Centro de Doenças Pulmonares de Coimbra(...)"
Edição 16-04-2008

A conhecida "peste branca" parece estar novamente na ribalta. Habitualmente conotada como uma doença associada a desnutrição e deficientes condições sanitárias de países sub-desenvolvidos, surge agora em pleno século XXI na população jovem e em Portugal. No século XIX, atistas, poetas e intelectuais morriam de tuberculose e em quase todas as famílias havia um doente. Nesta época a tuberculose foi a principal causa de morte na Europa e nos Estados Unidos. Esta patologia assumiu importância durante a Revolução industrial, quando o aumento significativo da população nas cidades se traduziu num aumento do número de óbitos relacionados com a propagação desta doença infeciosa. Somente na metade do século XX, cientistas descobriram drogas eficazes capazes de curar.
A Tuberculose é uma infecção contagiosa, potencialmente mortal, causada por uma bactéria: Mycobacterium tuberculosis, M. bovis ou M. africanum. "Com o desenvolvimento do antibiótico Estreptomicina nos anos 40, da Isoniazida nos anos 50, do Etambutol nos anos 60 e da Rifampicina nos anos 70, a batalha contra a tuberculose parecia ganha. Contudo, em meados da década de 80, o número de casos em alguns países começou novamente a aumentar. A SIDA, conjuntamente com o excesso populacional e as más condições sanitárias de muitas zonas urbanas, os albergues para pessoas sem casa e as prisões, fizeram com que voltasse a ser um problema grave de saúde pública. Além disso, é particularmente preocupante que algumas variedades de bactérias responsáveis se tenham tornado resistentes aos antibióticos utilizados para tratar a doença. De qualquer modo, em alguns dos países referidos a incidência da tuberculose está de novo a começar a diminuir."

http://www.manualmerk.net/
Etiologicamente esta doença surge frequentemente associada factores geográfiocos( situações de maior pobreza e salubridade deficiente), factores genéticos (transmissão de genes associados à patologia e herdados pelos descendentes) e factores individuais ( étnicos, idade, entre outros).

Como se desenvolve a infecção?
-Actualmente nos países desenvolvidos, a tuberculose só se transmite inalando ar contaminado com Mycobacterium tuberculosis num ambiente fechado. Para que o ar se contamine, o hospedeiro terá de expelir bactérias tossindo e estas poderão permanecer no ar durante várias horas.
- Um feto pode adquirir tuberculose através da mãe, antes ou durante o nascimento, pelo contacto com o líquido amniótico contaminado
- Um lactente pode contrair a doença, depois de nascer, ao respirar ar que contenha gotículas infectadas.
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Nos países em vias de desenvolvimento, as crianças podem infectar-se com outra micobactéria que cause tuberculose. Este microrganismo, chamado Mycobacterium bovis, pode ser transmitido através do leite não pasteurizado.
Curiosamente, de acordo com o referido manual, pude constatar que 90 % a 95 % de todas as infecções por tuberculose saram sem que a pessoa sequer o note.
Contudo estas poderão permanecer no hospedeiro inactivas em macrófagos, permanecendo muitos anos. Cerca de 80 % das infecções tuberculosas são causadas pela activação de bactérias inactivas. A activação de bactérias inactivas pode ter lugar quando o sistema imunitário individual se apresenta imunodeprimido (por exemplo, em virtude da SIDA, do uso de corticosteróides ou da idade avançada).
"Se as bactérias que causam a infecção tuberculosa se tornam resistentes aos antibióticos, uma pessoa com SIDA e tuberculose tem 50 % de probabilidades de morrer num lapso de tempo de dois meses"
O diagnóstico é possível mediante radiografia ao tórax (1), estudos microbiológicos (2)de amostras de secreções pulmonares expelidas oralmente e teste intradérmico da tuberculina (3).
A tuberculose activa começa habitualmente nos pulmões (tuberculose pulmonar). A tuberculose que afecta outras partes do organismo (tuberculose extrapulmonar) costuma provir de uma infecção tuberculosa pulmonar que se disseminou através do sangue. Como no caso dos pulmões, a infecção pode não causar doença, dado que as bactérias podem permanecer inactivas numa pequena cicatriz.

1) 2) 3)




A sintomatologia e complicações associadas surgem com tosse com expectoração e/ou sangue, calafrios, dificuldade em respirar. O diagnóstico clínico pode ser difícil de estabelecer face a sintomas tão vagos. Num período inicial as bactérias transferem-se da lesão do pulmão para os gânglios linfáticos que drenam esse órgão. Se a resposte imune primária se demonstrar suficiente para o controlo da infecção, as bactérias são inactivadas. Contudo, nas crianças, os gânglios linfáticos podem aumentar de volume e comprimir os brônquios, causando uma tosse metálica e provavelmente um possível colapso pulmonar. Ocasionalmente as bactérias disseminam-se pelos canais linfáticos, formando um aglomerado nos gânglios linfáticos. A tuberculose extrapulmonar afecta outros órgãos para além dos pulmões. Os rins e os ossos são provavelmente os locais onde mais frequentemente se desenvolve, podendo destruir parte destes órgãos. Contudo podem surgir evidências associadas, a nível intestinal, reprodutor, urológico, articular.

Uma infecção tuberculosa localizada na base do cérebro (meningite tuberculosa) é extremamente perigosa. Em alguns países desenvolvidos, a meningite tuberculosa é, actualmente, mais frequente entre as pessoas de idade avançada. Nos países em vias de desenvolvimento, é mais frequente entre as crianças, desde a nascença até aos 5 anos. Os sintomas da meningite tuberculosa são febre, dor de cabeça constante, náuseas e sonolência que pode acabar em coma.

A tuberculose miliar é outro motivo de preocupação. Quando um grande número de bactérias se dissemina por todo o corpo através da corrente sanguínea, capaz de provocar milhões de pequenas lesões do tamanho de um grão de alpista.Os sintomas são difusos e difíceis de identificar; entre eles figuram a perda de peso, febre, arrepios, fraqueza, mal-estar geral e dificuldade em respirar. Se a medula óssea for afectada, é possível que a pessoa tenha uma anemia intensa e outras anomalias sanguineas, que sugerem a presença de leucemia. Uma libertação intermitente de bactérias para a corrente sanguínea a partir de uma lesão oculta pode causar febre intermitente, com um enfraquecimento gradual do organismo.
O Tratamento é efectuado com mais de um fármaco antibiótico, já que as bactérias associadas são diversas e, deste modo, são necessários diferentes mecanismos de acção farmacológica para as destruir.
" Os antibióticos que se podem utilizar são cinco e a sua eficácia é tal que uma só bactéria em cada milhão escapa ao seu efeito. Como uma infecção de tuberculose pulmonar activa costuma conter 1000 milhões de bactérias ou mais, qualquer fármaco que se administrasse isoladamente deixaria mil microrganismos totalmente resistentes à sua acção".
Estas bactérias de crecimento lento, podem sucitar eventuais fases de remissão sintomatológicas, pelo que a terapêutica deverá ser contínua de forma a a reduzir a probabilidade de recorrência.
Os antibióticos mais frequentemente utilizados são: a isoniazida, a rifampicina, a pirazinamida, a estreptomicina e o etambutol. Os três primeiros fármacos podem estar contidos no mesmo comprimido. Isso reduz o número de comprimidos que o doente tem de tomar diariamente e assegura o cumprimento adequado da terapêutica.
- Os antibióticos isoniazida, rifampicina e pirazinamida podem causar náuseas e vómitos como resultado do seu efeito sobre o fígado. Perante estes casos os medicamentos devem deixar de ser administrados até que se possam fazer análises da função hepática. Se os resultados mostrarem uma reacção apenas a um deles, em regra costuma encontrar-se um substituto satisfatório para poder completar o tratamento.
- O etambutol começa a ser aplicado numa dose relativamente elevada para ajudar a reduzir rapidamente o número de bactérias. A dose é reduzida ao cabo de dois meses, com o fim de evitar efeitos adversos oculares.
- A estreptomicina foi o primeiro fármaco considerado eficaz contra a tuberculose; deve, porém, ser administrada por injecção. Apesar de continuar a ser um medicamento muito eficaz contra as infecções avançadas, pode afectar o sentido do equilíbrio e a audição se for administrado em grandes doses ou durante mais de três meses.
- Actualmente quase nunca é necessário extrair cirurgicamente uma parte do pulmão, desde que o doente siga rigorosamente otratamento farmacológico. No entanto, em certos casos, é preciso recorrer à cirurgia para drenar o pus de onde ele se tiver acumulado e ocasionalmente para corrigir uma deformação da coluna causada pela tuberculose.


Prevenção
- Radiação UV, apresenta forte poder germicida para pessoas que contactem com eventuais portadores dadoença(Ex: salas de espera dos serviços de urgência);
- Isoniazida é muito eficaz quando se aplica a indivíduos com elevado risco de desenvolver tuberculose. Entre eles encontram-se aqueles que tenham estado em contacto íntimo com alguém afectado pela doença. Estudos recentes demonstraram que cerca de 10 % das pessoas com infecções recentes desenvolvem tuberculose se não for aplicado tratamento, qualquer que seja a sua idade.
O benefício da terapêutica preventiva é evidente nas pessoas com menos de 25 anos que reajam face à prova cutânea da tuberculina, dado que existe a possibilidade de que aquela infecção seja recente e possa ser curada facilmente antes que progrida. Os benefícios do tratamento preventivo em adultos com mais de 25 anos é difícil de demonstrar.
As pessoas infectadas com o VIH que não reajam à prova cutânea da tuberculina, mas que tenham um risco considerável de entrar em contacto com pessoas com tuberculose activa, devem também receber isoniazida.
As pessoas com tuberculose pulmonar que estejam a receber tratamento não precisam de estar isoladas durante mais do que alguns dias, porque os fármacos reduzem rapidamente a capacidade infectante das bactérias. De qualquer modo, os indivíduos que tossem e não tomam a sua medicação correctamente podem necessitar de um isolamento mais prolongado para que não transmitam a doença. Um doente costuma deixar de ser contagioso ao fim de 10 a 14 dias de tratamento farmacológico.

- Aplica-se ainda uma vacina BCG para evitar a infecção pelo Mycobacterium tuberculosis. A sua eficácia é duvidosa e só se utiliza nos países em que a probabilidade de contrair tuberculose é muito elevada.


Bibliografia : adaptado de http://www.manualmerk.net/ por NL


Portugal parece apostar cada vez mais na investigaçção científica. Recentemente, em janeiro do presente ano, investigadores portugueses divulgram as suas novas apostas em fármacos para a Tuberculose.
Equipa de investigadores da Universidade de Coimbra conseguiu identificar a função desempenhada por uma enzima considerada como um importante alvo terapêutico para a tuberculose.Os resultados do trabalho que conta com a colaboração de especialistas do IBMC, no Porto, já está patenteado e deverá ser publicado em breve. Apesar do promissor avanço, Milton Costa, coordenador da investigação, avisa que até chegar a um novo antibiótico será necessário esperar por muitos estudos e muitos anos.O mais recente tratamento para a tuberculose terá cerca de 30 anos, lembra o professor do Departamento de Bioquímica da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Coimbra, justificando, desta forma, a importância da aposta em novas fórmulas e, preferencialmente, sem efeitos secundários. Será esse o objectivo da equipa de investigadores. "A próxima fase é encontrar moléculas que impeçam o funcionamento da enzima, mas que não sejam tóxicas para o ser humano", refere Milton Costa no comunicado divulgado ontem sobre a investigação. O especialista adiantou ainda ao PÚBLICO que "já foi identificado o local activo desta enzima" e que agora será necessário desenvolver uma substância capaz de bloquear a sua acção. "Se esta enzima não for sintetizada, a bactéria não prolifera", explicou, acrescentando que a enzima identificada pode ser encontrada em apenas cerca de 50 organismos, sobretudo, micobactérias. Aliás, segundo nota, o estudo desta enzima poderá ainda ter implicações noutras doenças como a lepra. Milton Costa nota ainda que a descoberta da equipa surgiu por acaso. Os especialistas investigavam uma bactéria chamada de Rubrobacter xylanophilus (que se desenvolve a altas tempreaturas rondando os 60 graus e tolera o sal) e que usa uma enzima (MPGS/GPGS) semelhante a que se encontra na micobactéria que provoca a tuberculose. O projecto está a ser desenvolvido em parceria com o Biocant - Parque tecnológico de Cantanhede. Portugal é um dos países da UE com mais elevada incidência de tuberculose registando cerca de 3 mil novos casos por ano.

Editado em: 22.01.2008



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