sábado, 18 de outubro de 2008

1 Portugues, 2 embalagens de tranquilizantes



Segundo o Relatório 2004 da Organização Internacional de Controlo de Estupefacientes, Portugal lidera a taxa de consumo de substâncias psicotrópicas lícitasTranquilizantes e Anti-depressivos como Valium, Diazepam, Lorax. A tendência para o abuso lícito e ilícito de tranquilizantes é confirmada por indicadores do INFARMED – Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento, cujo estudo “Evolução do consumo de benzodiazepinas em Portugal de 1995-2001” aponta para um crescimento do consumo de benzodiazepinas (prescritas para redução de ansiedade, indução de sono e acalmar sintomas de pânico, etc.) de 26.36%, tendo passado de 70,48 para 89,06 DHD. As benzodiazepinas mais consumidas foram o alprazolam, lorazepam e diazepam, representando estes três fármacos 55,87% do consumo em 2001 (...)
Diazepam, bromazepam, lorazepam, triazolam, flurazepam, clorazepam, etc., são as drogas mais consumidas em todo o mundo sendo considerado o seu consumo um problema de saúde pública nos países mais desenvolvidos.(...)Do ponto de vista orgânico ou físico, as BZN são drogas relativamente seguras, dado ser necessárias grandes doses para gerar efeitos graves como hipotonia muscular, dificuldade em manter-se de pé e caminhar, tensão baixa, desmaios, e mesmo coma (que agravado sob consumo adicional de álcool). Estudos apontam para a suspeita do poder teratogénico das BZN durante a gravidez, podendo provocar lesões ou defeitos físicos no neonatais,malformações estas congénitas associadas a tranquilizantes menores como diazepam."



As benzodiazepinas actuam selectivamente em vias polissinápticas do SNC. Os mecanismos e os locais de acção precisos não estão ainda totalmente esclarecidos. O receptor das benzodiazepinas, situado na estrutura de um dos receptores do GABA designado por GABA A. Sabe-se que as benzodiazepinas modulam a acção do próprio GABA, promovendo a hiperpolarização das células onde actuam, por favorecer a abertura do canal de cloro, inibindo deste modo gerar-se potencial de acção. As benzodiazepinas distinguem-se entre si, essencialmente, pelas suas propriedades farmacocinéticas. Do ponto de vista farmacodinâmico ainda não é possível fazer distinções sistemáticas, embora só para algumas esteja comprovada a acção antiepiléptica. Deve-se notar, no entanto, que numa perspectiva pragmática as benzodiazepinas distinguem-se entre hipnóticas e ansiolíticas. Esta distinção é de alguma forma artificial na medida em que todas são ansiolíticas e que todas podem modificar o sono desde que se atinjam doses eficazes. O que as distingue, contudo, é que as benzodiazepinas ditas hipnóticas são fármacos potentes que podem por isso modificar as condições do sono em doses relativamente baixas, enquanto que as benzodiazepinas ditas ansiolíticas são menos potentes, o que permite a existência de uma "janela terapêutica" em que é possível obter uma acção ansiolítica sem interferir significativamente com o sono.

Todas as benzodiazepinas podem induzir tolerância, dependência física e psíquica. As benzodiazepinas de curta duração de acção são as que têm maior potencial de induzir dependência. Por outro lado, a tolerância para os efeitos hipnóticos das benzodiazepinas desenvolve-se rapidamente, pelo que os tratamentos que têm como objectivo o tratamento da insónia devem ser de curta duração. As benzodiazepinas estão contra-indicadas na apneia do sono. Habitualmente há necessidade de reduzir a dose das benzodiazepinas quando há IR. Em casos de intoxicação está indicado o flumazenilo como Antagonista.

As benzodiazepinas são a alternativa para os barbitúricos. Estas são claramente vantajosas na medida em que não têm acção depressora do centro respiratório, sendo por isso de uso mais seguro, além de terem maior especificidade sobre a sintomatologia ansiosa.
Indicações:
Ansiedade simples ou secundária, depressão, insónias,convulsões,epilepsia ( só algumas),indução da hipnose,Delirium tremens,como adjuvante na indução da anestesia geral;em procedimentos médicos invasivos para acalmar o doente (e.g. endoscopia);como relaxante muscular.
Efeitos Adversos:
Sedação (se usado como ansiolítico),alguma euforia,amnésia,indiferença e má avaliação do perigo(tendem a responder menos a agressões por outros indíviduos),exacerbação de muitos efeitos do alcool, confusão, hipotermia, dependência, aumento da hostilidade, ataxia, anemia hemolítica ,alucinações.
Risco menor de depressão respiratória ou cardiovascular em overdose, embora se tomadas concomitantemente com outros depressores do SNC, como o alcool, o risco aumenta.

Dependência
Causam dependência psicológica e física, dependente da dosagem e duração do tratamento. A dependência física estabelece-se após 6 semanas de uso, mesmo que moderado.
O uso crónico cria tolerância obrigando a aumentar a dose para obter os mesmos efeitos, razão por que actualmente não está indicada a sua administrção para lá das três semanas, em casos não complicados.
O seu síndrome de privação/abstinência após uso prolongado (mais de 2 meses) inicia-se alguns dias após paragem da administração, atingindo um período ainda desconhecido que pode ir até aos dois, três anos. Caracteriza-se por tremores, tonturas, ansiedade, insónias, perda do apetite, delirium tremens, delusões, suores, e por vezes convulsões ou psicoses.

Benzodiazepinas agrupadas
Duração ultra-curta (menos de 6 horas) (hipnóticos e indutores do sono)
Triazolam: Pode causar ataques de mau humor e fúria violenta em alguns doentes devido aos sintomas de privação rápidos. Retirado do mercado em alguns países por essa razão.
Midazolam: Dormonid
Flunitrazepam: Rohypnol

Duração curta (6-10h) (hipnóticos, ansiolíticos)
Oxazepam
Duração intermédia (10-20h) (ansiolíticos, hipnóticos)
Lorazepam
Clordiazepóxido: 5-25h.
Temazepam
Alprazolam

Duração longa (ansiolíticos)
Diazepam: Valium.
Clonazepam: Rivotril
Prazepam
Bromazepam: Lexotan

Posto isto, haverá alternativas viáveis que se apresentem vantajosas, face à química medicamentosa das benzodiazepinas?


Após leitura de alguns artigos pude constatar que existem algumas possibilidades:

1-Terapia de relaxamento: yoga, judo, acupunctura...

2-Buspirona, que pertence a mais nova classe de medicamentos chamada de azapironas. Nalguns casos específicos, podem ser usados certos antidepressivos sedativos, quando a insónia está associada à depressão ou para fazer o desmame dos hipnóticos. A buspirona demora mais tempo para produzir benefícios e pode ter efeitos colaterais como tontura, dor de cabeça e náusea, mas vicia menos que o alprazolam. Além disso, alguns médicos dizem ter obtido sucesso no tratamento da ansiedade com antidepressivos, especialmente SSRIs.

3-Extractos de valeriana. Os medicamentos à base desta planta representam uma alternativa interessante. No entanto, a sua eficácia ainda não pode ser medida com rigor nomeadamente porque ainda se desconhecem todos os princípios activos e por alguns problemas de qualidade.

4- Anti-histamínicos. Para tratar insónias ligeiras, podem ainda ser prescritos certos anti-histamínicos, aproveitando a sua capacidade de provocar sonolência como efeito secundário. Mas esta solução só raramente é utilizada.

Em todo o caso é importante saber que só o médico pode avaliar a gravidade dos sintomas e prescrever o tratamento mais adequado. Os tratamentos podem passar por combinar psicoterapias e técnicas de relaxamento, em vez de recorrer a medicamentos.
Caso sofra de uma perturbação do sono continuada, o mais provável é que o médico lhe recomende psicoterapia (nomeadamente terapia cognitivo-comportamental).
http://www.deco.proteste.pt/saude/dossie-do-sono-s412131/dos/413371.htm


De acordo com o Infarmed, são alguns exemplos de Psicofármacos Ansiolíticos e Hipnóticos agrupados pelo tempo permanência no organismo:

Ansiolíticos de Curta Duração
Alprazolam, Bromazepam, Lorazepam, Medazepam, Oxazepam
Ansiolíticos de Duração Intermédia
Cetazolam, Clobazam, Clorazepato, Clorodiazepóxido, Cloxazolam, Diazepam, Halazepam, Loflazepato de etilo, Mexazolam ,Nordazepam, Prazepam
Ansiolíticos de Longa Duração
Brotizolam, Midazolam, Triazolam, Zolpidem


Hipnóticos de Curta Duração
Estazolam ,Flunitrazepam,Loprazolam ,Lormetazepam, Temazepam
Hipnóticos de Duração Intermédia
Flurazepam,Quazepam
Hipnóticos de Longa Duração
Buspirona,Valeriana

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MONITORIZACAO_DO_MERCADO/OBSERVATORIO/INTRODUCAO_DE_FICHEIROS/Estudo-BZD.pdf



"Medicamentos, aliados ou não ao álcool, é uma das formas mais comuns para as tentativas de suicídio, uma vez que os doentes que os tomam têm muitas vezes quadros depressivos associados aos problemas de ansiedade ou de sono.Para o especialista, uma forma de minimizar o problema seria prescrever embalagens mais pequenas destes fármacos, embora reconheça que isso faria aumentar o número de consultas médicas.O psiquiatra Ricardo Gusmão, por seu lado, admite que os tranquilizantes (benzodiazepinas) sejam frequentemente usados nos parasuicídios, mas não nas tentativas reais de suicídio.«Os parasuicídios são formas mais ou menos conscientes de comunicar uma situação de crise que um indivíduo se sente incapaz de resolver e pode ser encarado como um modo de pedir ajuda a terceiros», explicou o professor de psiquiatria Ricardo Gusmão. Nestes casos, o coordenador em Portugal da Aliança Europeia Contra a Depressão considera que as benzodiazepinas são frequentemente utilizadas, mas que raramente resultam em morte.O neurologista Nuno Canas alertou ainda que os tratamentos com tranquilizantes (benzodiazepinas) são muito mais prolongados do que deviam, uma responsabilidade que atribuiu essencialmente aos médicos.«Os tratamentos com benzodiazepinas deviam durar um ou dois meses no máximo, mas estão a ser muitíssimo mais prolongados», afirmou. Para o neurologista do hospital Egas Moniz, «a responsabilidade é dos médicos em geral, que não param os tratamentos quando deviam», o que acontece porque as benzodiazepinas são eficazes e induzem nos doentes uma sensação de calma. Em contraponto, o psiquiatra Ricardo Gusmão diz que é residual o número de doentes que não passam sem benzodiazepinas por um período superior a três meses, assumindo contudo que «boa parte» do seu trabalho consiste em fazer o desmame destes fármacos. Alterações cognitivas, dependência física e psíquica e elevada tolerância (tem de se ir aumentando a dose para que o medicamento faça efeito) são os principais problemas de uma toma prolongada dos tranquilizantes.«Os médicos prescrevem frequentemente benzodiazepinas porque as pessoas pressionam. Não valorizam também o problema da dependência, das alterações tóxicas comportamentais e cognitivas», afirmou o especialista, sublinhando que há muitas farmácias a vender estes medicamentos sem receita médica e contra a lei. De acordo com dados do Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, cada português consumiu em média no ano passado duas embalagens de comprimidos sedativos, ansiolíticos ou hipnóticos. Os dados de 2006 indicam que os portugueses gastaram 81,94 milhões de euros em medicamentos para ajudar a dormir ou para combater a ansiedade.Os mesmos dados indicam que os portugueses consomem anualmente cerca de 20 milhões de embalagens deste tipo de comprimidos, o que dá uma média de duas embalagens por cada português.Os medicamentos com substâncias naturais, como o extracto de valeriana, têm sido apontados por alguns médicos como uma alternativa às benzodiazepinas.«As companhias farmacêuticas estão a começar a apostar nesta alternativa. O efeito destes produtos naturais não é tão rápido, mas a eficácia é semelhante e os efeitos acessórios são incomparavelmente menores», defendeu Nuno Canas. Como exemplo dos efeitos secundários reduzidos, o médico do Egas Moniz dá o caso de um doente que se tentou suicidar com 100 comprimidos de extracto de valeriana e que, no dia seguinte, apenas acordou com mais sono. Mas Ricardo Gusmão ressalva que a valeriana apenas tem utilidade como ansiolítico em casos SOS, uma vez que tomada durante alguns dias seguidos deixa de cumprir esse efeitoNão presta para tratamentos estruturados e não pode substituir as benzodiazepinas», comentou, apontando antes como alternativa a buspirona, que o neurologista Nuno Canas também nomeou como fármaco uma opção com riscos de dependência e de tolerância muito menores".
Lusa / SOL